A Frente Independente Popular – FIP/RJ repudia, com fervor revolucionário, qualquer tentativa de qualificação do braço armado fascista e genocida do velho Estado Capitalista brasileiro, seja ele Polícia Militar, Civil ou forças armadas. Historicamente esses aparelhos repressores atuam a serviço da elite, desde suas origens, e têm servido para massacrar o povo, que com pagamento de impostos acaba sendo obrigado a financiar seus próprios carnífices.
Não à toa, uma intensa perplexidade e indignação tomou conta daqueles que estão nas ruas, sob a mira da Polícia que mais mata no mundo, quando um membro da academia se propôs a incitar essa corporação desmoralizada perante o povo, qualificando os manifestantes de fascistas e acusando-os de centrar sua autodefesa em ataque às pessoas.
É inadmissível que professores pagos com nosso dinheiro se proponham a incentivar ainda mais uma instituição que age para matar, torturar e prender qualquer um que ameace essa ordem de injustiças sociais orquestradas por empresários, grande mídia e seus governantes vendidos protegidos por essa mesma polícia, cujo lema é servir e proteger a uma corja de elite empresarial, sacralizando a propriedade privada em detrimento de vidas.
Ao afirmar aos policiais, numa palestra na Academia da PM do Rio de Janeiro, que Black Bloc é um grupo fascista, Marilena está claramente legitimando a ação truculenta da polícia e toda consequência que isso gera, pois entre mortos e feridos não se salvam todos – inclusive valorosos companheiros.
Tal fato se mostra mais grave ao vir de pessoas que outrora reivindicaram pertencer ao pensamento social situado no campo político da esquerda ou algo próximo a isso. Com todo o respeito àqueles que contribuíram, de uma forma ou de outra, para um pensamento social crítico, afirmamos com convicção que coerência política não tem idade. E que na estrutura social de classes inconciliáveis ninguém é neutro e assume seu lado quando se propõe a qualificar qualquer aparelho repressor da elite empresarial, nesse caso a PM.
Contudo, é importante entender de onde vêm tais bravatas falaciosas. Obviamente, tal acusação leviana parte de quem não participa das ações políticas do povo em luta no campo e nas cidades e há muito tempo “oPTou” pelos limites dos gabinetes da institucionalidade burguesa cercada pelos muros das universidades, onde a maioria produz conhecimento para si mesmo e para o mercado capitalista, descolada das necessidades e da realidade do povo que a financia. Esse afastamento da realidade concreta, complexa e dinâmica não poderia desencadear em outra coisa, senão em análises equivocadas diante dos acontecimentos reais que tomam conta do atual processo de legítima e justa revolta popular.
A maioria dos acadêmicos de plantão não consegue compreender esses fenômenos pelo simples fato de não participarem deles. Além disso, qualquer tentativa real ou possibilidade de compreendê-los provavelmente não renderia artigos científicos, dada a lógica produtivista a serviço do mercado dos papers e da concorrência intelectualóide ditada pelos órgãos de fomento às pesquisas, como Capes e CNPq, sob o jugo financeiro.
Essa financeirização da produção acadêmica brasileira aniquila a possibilidade da construção de Universidades Populares, com efetivas integrações ensino-serviço-comunidade, ou mesmo com desenvolvimento científico sob controle do povo trabalhador. Por isso projetos de extensões universitárias extramuros, assim como pesquisa e ensino socialmente referenciados, são cada vez menos produzidos – tripé de qualquer projeto sério de Universidade Popular.
Contextualizado de onde vêm tais aberrações analíticas, ou seja, seu centro irradiador, cabe contra-argumentá-las.
Primeiramente, não é verdade que os movimentos que protagonizam as ações diretas de violência revolucionária sejam compostos somente por indivíduos que utilizam táticas de propaganda pela ação intitulados de Black Blocs. Tampouco, que o povo em luta e em autodefesa tenha seu foco no ataque às pessoas. Trata-se de uma acusação absurda, historicamente usada pela elite para tentar criminalizar e desmoralizar movimentos sociais populares.
Ora, esse acusacionismo joga uma cortina de fumaça sobre os fatos reais, enquanto essa mesma polícia continua com sua truculência e terrorismo de estado, agora instigada pela mais nova componente de seu grupo de formadores: Marilena Chauí.
Quem esteve nas manifestações sabe bem que foi a PM e seus comandantes que incitaram e dispararam ações violentas, tentando impedir direitos fundamentais de ir e vir e de se manifestar. Não se trata de uma questão de opinião, mas sim dos fatos concretos! Sendo, portanto, fora de parâmetros científicos tal assertiva acusacionista.
Em contrapartida, restou ao povo em luta política lançar mão de estratégias de autodefesa que nada têm a ver com ataques a pessoas de forma generalizada conforme inventou a palestrante da PM. O que leva a crer que ela utilizou como fonte de informação o que há de mais reacionário na grande mídia brasileira de raízes burguesas.
A justa e legítima violência da Multidão representa o processo de supressão da alienação e o reconhecimento de sua condição humana merecedora de direitos sociais. Mesmo assim, Chauí continuou com suas bravatas afirmando que o modelo “Black Bloc” é uma mescla de “partidos de extrema esquerda à procura de uma linguagem intempestiva de reconhecimento social e nacional” e “essa coisa anárquica (…)”.
Essa coisa anárquica, como se referiu ao Anarquismo, é notoriamente um descaso ideológico enquanto tentativa de desqualificar movimentos que questionam o governo ao qual ela pertence.
Vale lembrar que, na historiografia brasileira, correntes anarquistas e comunistas (ditas de extrema esquerda) foram fundamentais na construção de diversos sindicatos combativos frente aos capitalistas, assim como na conquista de importantes direitos trabalhistas no Brasil, tais como: férias, diminuição da jornada de trabalho, licença-maternidade e 13º salário. Fatos cada vez mais raros, visto a cooptação escancarada de muitos sindicalistas e intelectuais frente aos governos do PT e suas alianças espúrias.
Ainda assim, a atual esquerda combativa não se contentou com essas migalhas de concessão burguesa, estando na rua determinada a conquistar uma justiça social que não se alcança sob a égide do modo de produção capitalista.
Descolada dessa perspectiva, a professora chega a afirmar que as manifestações de setembro deveriam reivindicar reforma política e tributária. Ora, isso não passa de um engodo governista na tentativa de capitanear a justa revolta popular, pois a Reforma Política foi um dos cinco pactos propostos pela presidente Dilma, do PT.
Diante de tantos descalabros, cabe esclarecer que nós da FIP somos uma frente anticapitalista combativa, com moral revolucionária diante da velha e podre estrutura do Estado brasileiro. A possibilidade de um projeto de sociedade futura não pode ser explicada pela vossa gabolice descontextualizada, mas sim pela capacidade do povo em construir a correlação de forças políticas suficientes para a criação do Poder Popular Justo nas distribuições de suas riquezas, entre outras coisas.
E o povo só poderá construir seu futuro projeto de sociedade em luta no campo e nas cidades, e não em zonas de conforto de gabinetes acadêmicos eivados de masturbação teórica complacente com governantes anti-povo e vende-pátria.
Ao contrário do que a professora da PM afirmou, está claro que as manifestações dizem NÃO a um conjunto de situações cujo eixo central é a relação promíscua entre governantes e empresários de diversos setores sociais. Questão determinante para tanta negação de direitos sociais acumulada e sua correspondente explosão de revolta popular legítima.
Nesse sentido, parece grotesco afirmar que essas manifestações “dialogam com o poder constituído”, quando um dos aspectos centrais foi a grande crise de institucionalidade que esse processo gerou, denunciando a farsa da “democracia” liberal burguesa.
Está claro também, que qualquer tentativa simplória de comparação com os levantes populares de 1968 está fadada ao fracasso, pois não é possível transpor momentos históricos em conjunturas completamente diferentes. O que só pode dar em uma simplista artificialidade excêntrica, senão mágica.
Nós, da Frente Independente Popular, a partir das declarações ensandecidas da filósofa Marilena Chauí, reafirmamos com esta nota o nosso total repúdio a toda e qualquer criminalização aos movimentos sociais que estão nas ruas contestando esse Estado plutocrático.
A conjuntura histórica atual nos impõe grande responsabilidade política. Diante de tais ataques reacionários, não nos intimidaremos!
Convocamos todos os setores revolucionários e combativos a se juntarem a nós e subscreverem este manifesto!
Rio de Janeiro, setembro de 2013.
FRENTE INDEPENDENTE POPULAR – RJ
Lutar, criar o Poder Popular!